sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Love Kills



   Saí triste da festa. Acho que ninguém notou minha ausência.
   Que fiquem lá com aquelas fantasias bestas, sem graça. Não sei por que resolvi dar as caras se nem convidado eu fui. Aliás, Marcelo recebeu o convide e me convidou, consequentemente. Nem como convidado, mas convidado do convidado... Provavelmente, nenhum convidado convidou amigo, conhecido ou familiar para a festa.
   Perguntei a Marcelo de quem era a festa, ele me disse que era de sua prima, Fernanda. Não me falara sobre ela antes. Conheci seus pais, já parentes distantes eram completamente estranhos para mim.
   Na nossa sala todos parecem zumbis, desconfiados. Nunca abrem a boca para falar uma frase inteira em voz alta, geralmente à surdina. Mania estranha para adolescentes. A maioria não se conhece pelo simples fato da sala ser cursinho intensivo. Quatro meses é pouco tempo para criar vínculos com um completo estranho. Sempre gostei de conversar; sem dar confiança, intimidade; conversar é sempre proveitoso. Só Marcelo parecia não ter o rabo preso, assim a nossa relação se estreitou e viramos amigos fora de aula.
   Eu era (ainda sou) alto, devia ter 1 m 92 cm de altura; pesava algo na casa dos 80 quilos na casa; era vexado e enérgico quando conversava, provocando risadas quase que sempre; apesar de ser expansivo sempre fui tímido quando se tratava de certos assuntos. Tinha 18 anos
   Marcelo era também alto, assim como eu; por volta de 5 quilos mais pesado que eu, longe de ser gordo; sempre calmo; tinha o estranho hábito de transpirar mesmo na fria sala de cursinho, nunca se queixara de calor. Falávamos sobre coisas diversas dentro e fora da aula. Tencionava fazer economia política. Passara. Continuamos a nos encontrar quando já cursávamos a universidade. Tinha 19 anos.
   Como era fim de outubro, o tema da festa foi o Halloween, tive que ir a caráter. Aluguei uma fantasia ridícula de pirata – a fantasia vinha com muitos adereços e brilho, extravagante demais –. Fui com o ‘Super-homem’ ao local indicado no convite (até que a fantasia de Marcelo não estava das piores, se maneirasse no gel estaria perfeito; a capa vermelha o incomodava).
   Chegamos à festa. Os fantasiados estavam indiferentes, igual à sala do cursinho. Fora alugada uma espécie de clube, anfiteatro, com bastante espaço. Apesar da música, do ambiente grande e mal iluminado ­ – propício a uns amassos –, todos mudos. Tentei me aproximar, puxar xaveco com uma ‘vampira’. Parecia que atuava, brincava com a indumentária tentando parecer uma criatura da noite (vestido negro, obvio, de tecido fino, dando nas vistas seus contornos e formas), mas logo percebi que só me ignorava. Sem motivo algum – creio eu – ela me ignorou. Sem nenhuma amiga, conhecida ou acompanhante (talvez a anfitriã Fernanda fosse sua única conhecida) e mesmo assim, ela me ignorou. Acredito que ela não tinha nenhum amigo ali, pois se o tivesse já estaria conversando. Na realidade, as fantasias deviam atrapalhar mais que ajudar, afinal ninguém, pensa em falar com um Mickey Mouse ou um Sanduíche (um pirata é tão impopular quanto os citados).                          
   Fui apresentado à Fernanda. A garota mais chata da festa; belíssima, contudo: pouco receptiva para uma anfitriã. Sua fantasia Penélope Charmosa lhe caíra muito bem (devia ser essa a razão que levava Marcelo a correr atrás da priminha durante todo esse tempo). Já estava acostumado a ser abandonado enquanto falava só que dessa vez nem o diálogo me foi concebido! Bastou que olhasse em minha direção com desdém; perguntou a Marcelo “Quem é esse?” ele responde “Esse é Guilherme, um amigo meu.” Ela pergunta mais uma vez “E por que você convidou ele?”. Suspirou – gesto de descontentamento, presumi – e saiu para outro extremo da festa. Marcelo foi atrás (fizera-se papel de auxiliar o resto da noite).
   Passado alguns minutos deixei a festa. Pensando melhor, não era tristeza o que sentia; estava contrariado comigo mesmo por ter ido à festa. Desperdicei uma noite inteira.
   Andar fantasiado foi esquisito. Parecia que não houve festas de Halloween naquele bairro, naquela noite. Os transeuntes deviam me ignorar, deviam reparar as minhas roupas. Sentia-me desconfortável.
   A noite estava escura. Devia ser 23h00min horas, era tão cedo. Nenhuma estrela no céu. Estava longe de casa. Caminhei até um ponto de ônibus... Se bem que não conhecia o bairro, menos ainda um ponto de ônibus. Chegara à festa no carro de Marcelo; agora, procurava um meio de voltar.
   Adiante, vi uma figura curiosa: Estava vestindo uma roupa fina de hospital, dessas que os doentes em alas de observação comumente usam; tinha a cabeça fixa no chão; cabelo curto; descalça. Deduzi que se tratava de uma garota que saíra de uma festa de Halloween e, assim como eu, fantasiada.  Aproximei-me.
   – Boa noite. – Ao nosso redor, parecia que nada mais além de nós existia. A rua estava deserta.
   Sem resposta.
   Sem esperar uma réplica, perguntei:
   – Sabe onde fica algum ponto de ônibus por aqui?
   Sem resposta, de novo.
   Senti-me assustado: a posição da garota era a mesma do parágrafo em que introduzi a descrição. Feito uma estátua-viva. Digo viva, visto que apesar da palidez da pele estar tom de cera, ela era uma pessoa.
   – Você está bem? – Perguntei tentando me aproximar dela, talvez fosse só tímida. Falei com a voz baixa, branda.
   – Sim. – A resposta fora seca e breve. Continuava a olhar para baixo.
   Definitivamente, deixar uma menina como aquela no meio do nada seria absurdo. Mas o que fazer? Ela falou sim e nem os meus olhos a atingiam. Convencê-la de que precisa de ajuda seria dificílimo.
   – Aconteceu alguma coisa? Sente dores? Seja sincera, posso chamar uma ambulância e vamos para o hospital mais próximo...
   – Não! Já disse antes que “Sim”. – Gritara furiosa.
   Fiquei confuso. Ela tremia. Toquei o seu braço e disse amigavelmente:
   – Calma. Se você não quer, entendo. Onde fica sua casa?
   Nada respondera, só levantara a cabeça. Nesse instante vi seu rosto. Seu semblante era de alguém profundamente abalado; estava chorando e seus olhos estavam roxos de inchados (eles eram castanhos); estava magra; mesmo no escuro percebi que cortes e arranhões recentes que cobriam toda a região da mão ao cotovelo.
   – Quem fez isso? – Indiquei as marcas de seu braço.
   – Foi um homem... – Agora, estava apta a falar. Diferente de antes, respondia com calma. “Devia estar sob o choque de um trauma, isso deve explica”, pensei.
   – Mas que homem? Foi seu pai?
   – Amigo dele.
   Segurei na sua mão, olhei em seus olhos e continuei o interrogatório:
   – E você não disse nada para seu pai?
   – Esse homem foi pago por meu pai para fazer isso.
   Estremeci.
   – Vamos para a delegacia, ou melhor, temos que ir para um hospital. Já!
   – Não! Eu não quero.
   Ela me olhava no fundo de meus olhos. Estranhamente tudo aquilo parecia ser alheio, estranho para ela. Intrigava-me cada vez mais com as suas respostas.
   – Como é que eu vou te ajudar?
   Ficou calada durante poucos segundos
   – Me leve para casa.
   A maneira que ela usara para dizer “Me leve para casa” foi apavorante.
   Para minha casa? Para a casa dela.
   Estava um instante, calada, relutante, agora desejava minha companhia. Será que fui persuasivo a ponto de merecer a sua confiança? “Me leve para casa”. Ela disse que não era longe. Decidi que iria acompanha-la.


***


   Seu nome era Ângela, foi tudo o que revelara no caminho até sua casa.
   A caminhada durou uns vinte minutos. Engolidos pelo escuro da noite, convenci-me que andávamos para lugar nenhum. Arrisquei algumas perguntas, mas nos primeiros instantes só obtivera silêncio como resposta – queria que ela me visse como o amigo que realmente era –. Depois, respondia timidamente. Era um progresso, de certa maneira.
   Na caminhada perguntara “Com quem mora?”, nada me respondera. Agora percebo que as suas poucas respostas foram inúteis, de nada revelava quem era a misteriosa adolescente, só serviram para um papo casual.
   Ângela estava sem chaves – pegara um molho da terra de uma avenca do lado esquerdo da porta –. Finalmente entramos em sua casa. Relativamente pequena, como não explorei todos os cômodos, então não dizer com certeza se era pequena; classifiquei como confortável para uma única pessoa morar; então, era uma casa grande.
   Ao acender a sala, sondei rapidamente o ambiente em que me encontrava: decorado com móveis velhos – longe de antiguidades, só feios e gastos – de cores sóbrias, porém desbotados (esse era o aspecto do jogo de sofás); a televisão era dessas de catracas, impressionaria se funcionasse. Do centro da sala, onde estava, podia ver um corredor estreito que dava para a cozinha; no meio do corredor, uma porta que dava para um cômodo, provavelmente o banheiro e uma porta no lado oposto que pensei ser um quarto.
   – Você está com sede? Aceita um copo d’água? – Perguntara alegre e jovial.
   – Sim, obrigado. – Na sala de Ângela, a vontade de falar desapareceu completamente.
   Ela entrou na cozinha e voltou com um copo de água. Continuava em pé.
   – Aqui.
   Bebi a água em grandes goladas. Deixei o copo no braço do sofá de dois lugares.
   Voltando a atenção à anfitriã, percebi que mais uma vez seu semblante mudara. Da extrema tristeza, agressividade e solidão para uma figura dócil ainda que muito tímida para uma menina alegre e sorridente que se jogara ao meu pescoço e reclamava um abraço apertado.
   – O que houve?! – Indaguei impressionado.
   – Nada. É que agora sei que tenho você comigo e nada de ruim irá acontecer.
  Com essa resposta, tive pena dela. Afinal, eu era um estranho e provavelmente uma das poucas pessoas que conhecera na vida que tiveram compaixão por um ser tão pobre.
   – Claro, eu te prometo: nada de mal vai te acontecer. – Respondi da mesma forma que procedera desde o nosso encontro: calma e pausadamente.
   – Sabe? eu gosto de você, Guilherme... Você é boo... om. – Sem largar meu pescoço, soletrava essas palavras à surdina, num cochicho.
   De repente, senti um calafrio, talvez calafrio fosse uma palavra inadequada. O termo correto... Nunca encontrei a palavra que descrevesse a sensação.
   – Minha cabeça dói.
   – Do que precisa?
   – Só deitar um pouco. – Beijara meu rosto ao termino do “pouco”. Lentamente caminhou para o quarto. O andar mudara igualmente como sua fala e modos; Ângela caminhava em nuvens, flutuando em direção à cama.
   Poderia ser mais sério. Entrei no quarto com a intenção de perguntar o que realmente ela sentia.
   O quarto estava escuro. À meia-luz que vinha da janela, vi havia uma grande cama de aço, um criado-mudo com alguns frascos abertos, um pequeno guarda-roupa, e Ângela deitada na cama (sem travesseiros ou lençóis). Seus olhos penetravam minha alma.
   – Tem problemas para dormir, Guilherme?
   – Durmo como uma pedra.
   – Então você é um inocente.
   – Por que diz isso?
   – Só os inocentes é que dormem. “Dormiu como um inocente”.
   – Acho que os inocentes dormem melhor. Outros dormem mesmo sem o ser.
   – Antes, bastava me deitar para dormir; hoje, nada me faz dormir. – Abaixara a voz, falara com tom amargo, seco. O que ela queria dizer com isso?
   – Deite aqui – Indicou com a mão direita onde eu devia me deitar.
   Obedeci. Parece que há muito tempo que só sigo seus paços.
   – Assim, quem sabe eu durmo.
   – Quer que eu pegue um copo de água? Para que você possa tomar uma dessas pílulas...
   – Não servem para dores de cabeça! – Berrara subitamente.
   Assustei-me.
   – Desculpe... Você falou como meu pai... Prefiro que fale como você... – Sua explicação era entrecortada.
  – Prefiro que nada fale.
  Nesse instante, perdi a fala. Fiquei paralisado, petrificado.
  Ângela me abraçou, comprimia seu corpo ao meu. Segundos depois minhas pálpebras pesavam. Lutava para permanecer acordado. Fracassei: Caí em sono profundo.


***

   Devo ter passado no mínimo duas horas dormindo. O quarto estava iluminado. Acordei imobilizado: A cama possuía amarras ais quais eu estava preso; sem parte da minha ridícula fantasia de pirata. Só de calças. Ângela não estava mais ao meu lado.
   O quarto era outro, era assustador.
   Chamei por ela. Sem resposta.
   Minha vista estava embaçada. Minha voz não era nada. Apesar do esforço que eu fazia, de tentar me contorcer, saí da situação, era como se eu continuasse dormindo. Tudo aquilo era um sonho, um pesadelo. Minha água devia ter algo dissolvido. Estava drogado.
   Ângela aparece.
   Trocara de roupas. Estava numa minissaia; botas pretas de cano longo; uma camisa de estampa perturbadora com uma série de corpos mutilados banhados em sangue. Usava uma maquiagem mista de branco e preta, principalmente na região dos olhos.
   Em tom de zombaria, Ângela chegou ao perto de meu ouvido e disse:
   – Acordou?! Que egoísta! Era pra você me ajudar a dormir, não para dormir. – Dera um risinho. Tornou-se mais alto e mais alto à medida que falava.
   Maquiada, seu rosto se tornara mais pálido que antes. Brutal. Meus sentidos me confundiam e boa parte do que fora dito fora fragmentado pelo meu cérebro. Não via os braços, estavam postos atrás, nas costas. Ela escondia algo. Era a única preocupação. Foquei minha atenção exclusivamente nesse ponto. Ângela percebeu.
   – Curioso? Sabe o que tenho? Hã?
   Sem ter meios, não respondi.
   – É um presente. Para Guilherme. De aniversário.
   Na sua mão direita, Ângela segurava uma navalha.
   – Quem foi... Seu... A água...!
   – Parece que você continua dormindo.
   Ela pousou a navalha em meu peito.
   – As cicatrizes... Por que sumiram?
   O quê ela quis dizer com isso?
   – Ah, ah!... Não...!
   – Hum, agora sim. Olhe para mim! A segunda vez é ainda melhor. Quero que veja tudo, tudo! Como da última vez.
   Meticulosamente, a navalha cortava minha pela. Eram arranhões superficiais, mas eu estava apavorado e gemendo, temendo por minha vida.
   O sangue começara a escorrer.
   – Pro seu aniversário... Com amor!!
   Enfiara em meu braço direito a navalha. A dor foi tremenda. A partir desse ponto, tive a certeza que dali não escaparia. Podia me considerar morto.
   Ao ouvir meu grito, Ângela gritara também, como que uivando, saudando o meu sofrimento.
   A campainha tocou. Ela tapou minha boca.
   Eu transpirava feito um condenado. O choque fora tamanho que as dores que sentia nem se compararam o que viera depois.
   A campainha tocou novamente.
   Os olhos de Ângela penetraram os meus e numa súplica muda de cumplices era o mesmo que pedisse “silêncio!” da maneira dócil e tímida.
   A campainha tocou ao tempo que porta também era batida.
   – Ângela?! – Chamara do lado de fora
   Uma forte pancada fora ouvida, e outra, e mais outra, até que por fim a porta da frente veio a baixo. Ouvi nitidamente passos de pelo menos três ou quatro pessoas. Um musculoso homem de roupas brancas entrou no quarto e encontrou Ângela me beijando.
   – Ela está aqui?! – Gritara ele. Em rápidos movimentos, tirara Ângela de cima de mim e a imobilizara.
   – Me larga! Ah! SOCORRO! SOCORRO!!!
   O pálido rosto de Ângela estava vermelho como fogo. Esbravejara, gritara. Inacreditável: a força de uma menina franzina era superior ao do homem musculoso que, com extremo esforço, lutava para mantê-la imóvel.
   Outras pessoas entraram o quarto.
   Um deles era um homem usando roupas igualmente brancas, porém o físico era totalmente adverso do primeiro que me salvou a vida. Era mais velho, estando na casa dos cinquenta. Medindo uns 1 m 70 cm, gordo.
   Outro homem vestia-se com bermudas e uma camisa e uma camisa listrada. Sua expressão facial era a mais abalada daquele cômodo. Apesar de aparentar ser mais jovem que a figura citada no parágrafo anterior, seu rosto estava visivelmente desfigurado. Daria no máximo 1 m e 63 de altura. Magro como a filha
   O quarto visitante não precisa de descrição, visto que o homem que reteve Ângela partilha das mesmas características. Sua função também era a de controlar a garota. Este era o psiquiatra de Ângela, amigo de seu pai – o senhor de bermudas.
   O homem mais velho ministrou uma espécie de medicação e pouco a pouco Ângela foi ficando mais calma. Nesse meio tempo, tiraram-me da cama e chamaram uma ambulância.
   No hospital, na mesma noite, recebi a visita do psiquiatra. Ele me explicou que Ângela sofria de transtornos mentais. Ela jamais tentou matar ninguém, suas crises se limitavam a alucinações, nada violento. O nome da doença é esquizofrenia. Seu pai acreditava numa possível recuperação, por isso não permitira que “isolassem a menina num manicômio”. Os pais de Ângela tinham uma casa (a mesma que nos encontraram) onde só ela e uma enfermeira moravam. Decidiram que ela moraria afastada deles, pois era muito difícil para eles verem dia após dia a filha cada dia pior. Depois de um surto sério, os pais decidiram que o melhor seria interna-la no hospital – no início desse mês. Infelizmente, de alguma maneira, a garota fugira.
   – Que surto sério foi esse? – Estava curioso.
   – A garota deixara de ir para a escola, mas o seu namorado sabia o novo endereço de Ângela. Ela atacou o namorado assim como você.
   – Ele não sabia que ela estava pior?
   – Guilherme nem sabia que ela sofria de esquizofrenia. O rapaz ficou tão chocado durante dois dias sem abrir a boca.
   – O nome dele é Guilherme?
   – Sim, grande coincidência. Ela só falava no aniversário do namorado; falava numa comemoração.
   Conversamos durante alguns minutos. Depois ele se retirou e pude dormir a noite que restava.

   Saí do hospital na manhã seguinte. Minha mãe levou-me para casa sobre severas advertências. Não acreditava – continuo não acreditando – no que acontecera.
   O estranho é que, pensando agora, ela poderia ter me matado antes dos enfermeiros terem me socorrido, mas mesmo assim ela não fez. Ela me beijou. Será que naquela noite Ângela me amou? Certamente, nunca saberei com certeza. Eu a amei àquela noite, e isso é que é estranho.

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